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QUADRICROMIA
Você é a soma
de todas as coisas que desejo
olhar / abraço / sorriso / beijo
nº composto, primário
congênere e oposto
quase perpétuo lunário
devido à absorção de luz
visualizo você em 4 cores
distintas
aplicando vontades
em quantidades variáveis
a densidade de algo chamado
saudade
somos quadrado de dois: eu e você.
Wallace Puosso
PORTA FURADA
Passaram-se quase quatro anos e
num desses dias lá estava Deoclécio; parado e meio tonto a uns quatro passos do
portão da casa de onde havia saído sem querer saber de destino ou salvação. A
rua estava deserta e era por volta das quatro horas da tarde, dessas tardes que
parecem feitas para prosear dentro de casa ou tirar um cochilo enrolado num
cobertor. Uma tarde nublada de inverno catarinense, nem muito frio mas com
muito vento.
Deoclécio lembrou-se da angústia que sentia todas as tardes quando
chegava naquela mesma casa, depois do trabalho, no tempo que morava lá com
Alice, sua mulher. Era sempre o mesmo desespero; encontrava tudo em desordem, a
casa desarrumada, louça suja na pia, roupa fora do lugar. Ele não suportava
esta desconstrução do seu jeito de ver o mundo. Era estoquista da tenda de
materiais da fábrica onde trabalhava e para ele tudo era muito quadrado, tudo
retinho, tudo perfeitamente alinhado. Precisava dessa solidez; sentia-se
perdido quando se deparava com aquela desorganização na sua vida. Daí tudo era
motivo para briga e a união não aguentou.
Assim, sem suportar suas próprias paredes, largou tudo e saiu por aí...
para tentar se encontrar mundo afora.
Não se encontrara tampouco... e lá estava ele, prestes a entrar e pedir
perdão.
Ainda hesitava em aceitar que ele deveria desculpar-se dos seus conflitos
e tentar refazer seu castelo.
Tanta confusão naquela cabeça.
Avançou os passos. Parou defronte a fachada. Desistindo do recomeço,
pegou o seu “três-oitão” e meteu dois pares de tiro na porta.
“- Aqui não volto mais não!”
Gritou feito um descontrolado. Deu meia volta e sumiu no mundo outra
vez.
Alice mal tomou conhecimento do acontecido, pois não estava na casa
naquela hora. Já havia se conformado com o sumiço do marido ha tantos anos.
Achou que os tiros foram obra de garotos corrompidos pelas drogas.
O que a incomodava era ainda não ter tido dinheiro para trocar a porta
da casa.
Toda vez se irritava em chegar em casa e dar de cara com aqueles quatro
furos de bala bem na porta de entrada.
João
Possidônio Jr.
Alegre ou triste
Amigo é coisa que eu quero por
perto.
Para eles
preparo canções,
patê de
ricota com folhinhas de manjericão
vinho e pão
com azeite fino.
Quando eles
vêm arejo a casa
abro as
janelas e planto flores
faço uma
cortina de palavras
e revelo
segredos.
Aprendo
novas coisas
digo que os
amo e repito
uma, duas,
três,
quatro vezes.
Amo-os...
Com amor de
madureza sem reservas
depois
basta fechar os olhos
que a
noite me cobre de sonhos.
Zenilda
Lua
O
quarto filho
Nasci na Serimbura, de família
Bustamante.
Bustamante com Almeida, pra dar a liga.
Parto natural, pelas mãos de minha avó,
de quem não puxei aos olhos azuis.
O quarto filho, que trouxe esperança e
medo
porque chegou quando alguns já tinham
partido.
O garoto pegou no tranco, veja bem,
quase fica pelo caminho. Quase fica.
Era para ser assim, meio fraco meio
forte
Um tanto de cada, tudo junto, mas com
sorte
O quarto filho, que só agora vê mesmo
algum sentido
O quarto filho. Quando outros já tinham
partido.
Oswaldo
Almeida Jr.
Esse foi o tema mais difícil dessa primeira etapa. Um número, uma razão aritmética, algo transcendental relacionado ao número quatro? Como expandir esses conceitos aparentemente mais fáceis de compreender? O poeta encontra tempestades por trás de cada calmaria, palavras de afeto e provocação no subterrâneo da inquietude, olha por sobre o visível, perscruta caminhos tortuosos e sinuosos da alma. Enfim... Até o último instante (que foi que deu essa sugestão de nome pro projeto?!? rsrs...) ainda haviam algumas dúvidas, uma certa insegurança. Mas... somos cabras bons de manejar palavras(falando assim meio com sotaque do boy Régis), sabe como é? Demora, demora, mas sempre chega.Destaque para a série de poemas autobiográficos do Oswaldo. Isso pra mim, é novidade. Sério. E que bom que nos propomos a sair da nossa "zona de conforto" de tempos em tempos! A Zê, nossa "fada madrinha" das letras joseenses, sempre com aquele jeitinho primoroso e adocicado de deixar a vida da gente mais "pra cima". A gente gosta, viu, Zê? e o Possidônio, surpreendendo também com suas narrativas. Fazendo uma análise agora - no calor do momento - dessas primeiras quatro semanas, acho que no fundo, no fundo, nós gostamos mesmo é de contar (boas) histórias. E quem não gosta? Em frente sempre e feliz por fazer parte de um processo tão rico de significados como este. Abraços meus caros guias! vida longa e produtiva a todos vocês!!!
ResponderExcluirAbraço,
Wallace Puosso
Como sempre surpeendente.
ResponderExcluirViva a poesia.
Bj a todos!
Rossana Masiero
Obrigado pelas palavras, Rossana! bjs!!
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