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Uma situação inesperada
surge para nos dizer
que não temos controle
sobre a vida.
Quem manda em nossos
destinos: nós mesmos?
Ou é a Vida quem manda?
Ainda, outra dú(vida):
- é uma parceria?
Luiz Felipe
Rezende
Inesperado aquilo. Bom, Inesperado
talvez nem seja a palavra certa, mas por falta de palavra mais adequada ficou
inesperado. Aquilo surgiu antes. Bem antes. Aliás, muito tempo antes. Não soube
dizer como chamava, se era bom, se fazia bem, se queria mais. Não soube até
acontecer. Aquilo que pra ele ainda não tinha nome, era só uma sensação
aconteceu. Porque acontece com todo mundo. Um dia. Acontece e pronto. Ele só
não estava preparado. Nunca esteve. Isso
é bom! - alguém lhe disse. Bom pra
quem? – retrucou na sua insegurança habitual. Sempre fora assim. Perdido
entre mais de uma escolha. Mas daquela vez não houve alternativa senão aceitar.
Aceitou relutante. Como era de se esperar. E se surpreendeu. Era bom. Fazia
bem. E queria mais. Bem mais. Aliás, muito mais. Isso que ele passou a chamar
amor. E agora aquilo tinha nome e havia se transformado em parte fundamental
dele. Amor. Porque acontece com todo mundo. Acontece e pronto. Mesmo que seja
inesperado.
Wallace Puosso
escapou-me das mãos
eu não tive culpa
não sabia que era tão frágil
sim, você me assustou
tirou-me o equilíbrio
Agora está ali, quebrado
nosso amor de outros dias
nosso amor que foi bom
sem conserto, em pedaços no chão
(diz: você varre ou eu varro?)
eu não tive culpa
não sabia que era tão frágil
sim, você me assustou
tirou-me o equilíbrio
Agora está ali, quebrado
nosso amor de outros dias
nosso amor que foi bom
sem conserto, em pedaços no chão
(diz: você varre ou eu varro?)
Oswaldo Jr.
Ainda
era madrugada quando abriu a geladeira. Estranho... O hálito frio era até
natural de se esperar – mas, em vez dos alimentos (e uma última lata de
cerveja), foi peculiar dar de cara com uma paisagem digna daqueles
quebra-cabeças que montava com os pais na longínqua infância. Ele parecia olhar
da janela de um avião: lá estava a cordilheira dos Andes, nevada, linda – e
talvez ainda o esperasse, lá embaixo, o emprego displicentemente recusado por
ele após o doutorado.
Enquanto
olhava as montanhas, mais admirado que propriamente assustado, escutava em sua
cabeça uma voz que dizia: “salte... vamos
lá... salte!”
(Todos
temos uma voz assim dentro de nós: façam silêncio e não dou cinco minutos para
começarem a ouvir. É por causa disso, aliás, que algumas pessoas parecem ter
horror a silêncio.)
Lembrou-se
do avô, até os últimos momentos: “O
importante é manter o espírito aventureiro!”
Então
saltou. Esperava descer suavemente, pois tinha a convicção inabalável de um
paraquedas às suas costas. Mas não foi o que aconteceu...
Subiu.
E muito! Não se lembrava de como manusear os controles do propulsor – caramba,
o antigo simulador de voo no seu computador não tinha a opção de “jato dos
Jetsons” ou coisa assim. Atingindo as nuvens, acalmou. Como era bom estar ali!
A essa altura, já conseguia voar na horizontal e, embora não precisasse
realizar qualquer movimento para seguir voando, não resistiu à tentação e
esticou os braços para a frente, realizando assim um sonho: em plena
maturidade, seu dia de Superman havia enfim chegado.
Voava
tranquilo quando seu superolfato (só podia ser isso) detectou um aroma
delicioso alguns quilômetros abaixo. Apontou e desceu, quase verticalmente.
Esperava encontrar um banquete ao ar livre ou talvez uma pizzaria. Nada disso.
Pousou praticamente dentro... de um rio! Mas dizer isso seria restringir a
experiência. A verdade é que ele era arrastado por uma estranha e densa
correnteza. Chedar, talvez? Mas devia haver um pouco de vinho na composição...
A coisa toda era inebriante, sem dúvida. Só faltava o pão...
Para
não perder o equilíbrio em pleno mer du
fromage, instintivamente agarrou um dos galhos (ou raízes?) próximos a uma
das margens. Teve então uma sensação dúbia: havia ali simultaneamente maciez e
crocância... mas... então... sim! Mergulhou satisfeito a baguete no gruyère fundido (ainda estava confuso
quanto ao componente primordial ali presente) e foi feliz, não pela primeira
vez naquele dia.
Tudo
depois fluiu maravilhosamente: “Não é
você, não há esforço: o arco deixa cair o tiro e tudo simplesmente acontece”,
já dizia o mestre. Compreendeu: não havia mais o inesperado, pois nada mais era
sequer esperado. Apenas ERA, e pronto.
A
chuva de luz foi um dos pontos altos daquele dia. Em êxtase, ele simplesmente
ficou deitado à sombra das chocolateiras, apreciando os polígono-íris, tão
belos em suas onze cores e tão diferentes dos arco-íris terrestres.
Por
fim, deixou-se adormecer ali mesmo. E sonhou que estava diante de uma tela,
escrevendo...
Paulo R. Barja
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