BORBOLETA QUE NÃO VOA NÃO COLORE O ESPAÇO

SAIA DE CHITA

lembro bastante ainda
da imagem, na dança da fita
era a morena tão linda
na roda, com saia de chita

fez bem ao garoto pequeno
com sonhos de gente maior
nem era um pensar obsceno
mas tinha um olhar de dar dó

era um olhar de saudade
de algo que nem começou
ali, na mais tenra idade
o menino pensava o amor.

Oswaldo Jr.

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SEM ESCALA

voando
sobre a Cordilheira dos Andes
ela finalmente entendeu
a finitude da vida

amores que ficam
saudades
o vazio do que não existe mais
lembranças

em silêncio fechou os olhos
e desejou ter asas
e liberdade
e nenhuma pressa em voltar.

wallace puosso

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Palavras que traduziam as cores do dia

Quando Thor silenciou,
Os dias simplesmente deixaram de existir
Pra Adélia.

Thor acordava muito cedo
E narrava com exímia precisão
Todos os assuntos matinais
Aos ouvidos ainda sonolentos de sua dona.

Na noite de 23 de junho de 1976
Thor faleceu durante um sono ameaçador,
Cercado por barulhos, fogos e festejos
Da noite de São João.

Quase treze horas do dia 24,
Adélia acordou assustada
E já sentindo a soma apressada dos passos das horas,
Chamou por Thor

- silêncio -

Gritou por uma vizinha
Que prontamente atendeu seu chamado...
E ao chegar
Viu Thor caído próximo ao fogão
Sem vida; sem assunto; sem ação.

Thor era um papagaio
Que Adélia ganhara de sua irmã Ângela,
No dia em que completou 11 anos de idade.

Adélia era cega; Thor era seu amigo, confidente e guia.

Ao receber a notícia,
Adélia ficou muito triste e quieta,
Feita uma folha desnutrida.

E em meio aos comentários, soluços e lágrimas,
Tomou coragem
E enterrou Thor no fundo do quintal,
Ao lado da jardineira,
Local onde também enterrou em maio de 1967,
Seu atestado de cegueira.

Réginaldo Poeta