29 de novembro de 2010

Minorias

Tema sugerido por Wallace Puosso (tema que surgiu do texto de Zakariya Amataya)

Próximo tema: O que é que tem no sótão?
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Sob o chão de nossa terra
jaz o povo guarani.
Por cima, a imagem que berra:
Torii, torii, torii.

oswaldo Jr.
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um dia de sol num copo d'agua


Então ele acordou - soluçando
no meio da madrugada
(silêncio)
copo d'água e exame de consciência.
"O que você estava esperando"
disse o Coringa ao homem-morcego
"a piada já perdeu a graça, você sabe".
Tem gente roubando meu espaço
tomando meu vinho
desejando minha mulher.
"Não há razão para pânico"
anunciou solene a voz metálica
nos corredores do shopping em chamas
de mãos dadas aquele casal se salvou.
Vivemos tempos estranhos
"Para de rir, por favor"
sussurrou à namorada
enquanto contavam dinheiro à entrada do motel
(o amor, às vezes, não pode ser parcelado)
quero (e preciso) me manter acordado
ainda espero um sinal (qualquer que seja)
o que importa, é estar ao seu lado
você sabe
a saudade
é a fragrância da memória.


Wallace Puosso

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Réginaldo Poeta
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A cruz de aço impede calientes afagos
Compreendes o torno no espaço?
Faíscas, estardalhaços

Consomes duas vezes por dia a ira?
Três vezes à noite a candura?
Usas o que procuras? De saias sem blusas?

Ao norte agruras, ao sul sorte
Sou contra o porte, a favor da vida e da morte, do alho e óleo, da oratória e do oratório

Devolves as luvas aos pobres, dos ricos esnobes
Confortes a quem a mão te estende, a quem as balas te vende, a quem os olhos te pede:
abraces bem leve (como leve pluma muito leve, leve pousa)


Raulito
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Espetaculosamente
a multidão vibra em sopro
de incansável festa, alegria.

Misteriosamente
uma figura madura
permanece inerte, em outro canto,
sem o medo-fantasma
de morrer podre, ou não
ser aceito, ou volter à terra,
vazia.


Fábio Ramos

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SENTENÇAS

Aquilo que excluo,
aquele que condeno,
não me é igual;
não pensa como eu penso.

Nego-lhes direitos,
subtraio oportunidades.
Defino a sentença
com base nas minhas verdades.

Sou freio no mundo,
fomento a desigualdade.
Dói no meu peito
tamanha futilidade.

Tomara que não seja tarde.
Um dia me corrigo.
Aquele que deixei à parte,
ainda quero chamar de amigo.

João Possidônio Jr.

22 de novembro de 2010

Mistérios

> Próximo tema: Minorias, sugerido por Wallace

E por falar em Mistérios, depois de lido os poemas, se quiserem, degustem esse lindo som do Renato Teixeira

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No princípio,
era o verso.

Coisa louca, o mistério da criação.


Oswaldo Jr.

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(antes de tudo)

pós-fácil:
serei póstumo
à palavra (não-dita)
porque (antes de tudo)
antes que o verbo o fosse
antes
(da própria palavra)
havia
havia o silêncio
e o silêncio
já o dizia

wallace puosso
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Jogos de Viver

- esquerda; direita
- aberto; fechado.

Qual o mistério de uma paixão?

Dalila?
Sansão?

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Te observo; te analiso; cervejo.

Que mistério de vida é essa?
Por favor me explique:
De onde vem o desejo?

Réginaldo Poeta
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Sentados à beira da calçada esperavam apenas pelo doador. Sangraram até o último corte. Brincaram até o derradeiro acorde. Foram surpreendidos pela súbita aderência. Introduziram o espectral primevo. Penetraram fractais, luzeiros e formóis.

Renasceu: lilás.


Teu olhar invadiu
Todo eu me abriu

Minh’alma expandiu
Tinh’algo de ti
Ninh’ouves a sós
Vinh’outro algoz

Libélulas lilás
Um toque capaz
De abrir portas, portais

Presente estás
Espelhos, vitrais
Bem me faz.

Raulito
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Minha lista de Mistérios

Duas impossibilidades, a começar minha lista de mistérios:
A certeza do Tudo ter surgido do Nada - como esperam os místicos, ou
ou o fato desse mesmo Tudo Sempre Ter Existido – como aspiram os céticos.

Misterioso é o canto dos pássaros exatamente às cinco e pouco da manhã
Misteriosas as letras Y, W e Z do alfabeto greco-latino
- Ou os ideogramas, com seu apelo estético.

Misterioso, o homem, com sua linguagem estruturada,
se desestruturando por causa de tal armadilha de lobo.

Misteriosa é a nossa cultura utilitarista, que procura funções ao poema
Nossa cultura maniqueísta que acredita em telenovelas e no dia do
pagamento do salário, no dia do juízo final
Misteriosa é a nossa fé, barganha sincera que crê na hipocrisia.

(Nem um pouco misterioso é o fato de tudo existir sem a exigência
da presença do homem ou de seu reconhecimento).

Misteriosa é a perpétua mania de buscar definição a tudo e a todos
Misteriosa é a saga dos seres microscópicos, das bactérias, das larvas, dos átomos
São suas motivações - se é que existem e cumprem essa tarefa

Misteriosos são os glaciais e a transição a quaisquer dos mundos
Misteriosa é a necessidade de associar beleza a mistério

Misteriosa é a vida ser tão breve e bela.

Fábio Ramos
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OUTROS MUNDOS

Daquilo que sei
não acredito;
do que acredito
nada sei.

Gotas de chuva
são mundos explodindo
no derradeiro momento
do ocaso vespertino.

Vozes que ecoam
pelas ruas vazias
murmuram o segredo
do universo.

O tempo que palpita
no elástico infinito
dos sonhos sem compromisso,
voa depois que acordamos.

Verdades sem dono
tronos sem rei.
Quando tudo passar,
pra que mundo irei?

João Possidônio Jr.
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15 de novembro de 2010

Nossa mania de artista

> tema sugerido por Luiz Felipe Rezende - próximo tema: Mistérios, sugerido por...
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Inacabado e Renitente
construído a duras penas
Sou eu, rascunho de mim
a cópia dos meus poemas.

Oswaldo Jr.

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vida de poeta
é como biografia
de furacão

Wallace Puosso
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A manifestação sombria de um palco incolor

Doze cordas
E a textura do meu corpo já não é a mesma...

Deliro com a possibilidade de um novo sucesso

- uma nova existência –

a vida que vivo hoje
Não é a vida que realmente vivo
É uma vida que em mim se inventa.

ginaldo Poeta

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Nenhum estranhamento de espírito

Embora constante a sua busca
Ciência e inércia diversa
Tirados da caixa de pandora
Pra servirem de refeição pro almoço
Mania de artista, domando a vida.

Fábio Ramos

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GRITOS DA ARTE

São os que são
mais fortes
do que o decidir da razão.

O artista escreve,
finge, canta,
inventa, dança,
declama, rabisca.

Não consegue
conter a arte...

e nem a arte
contém o artista.

João Possidônio Jr.

8 de novembro de 2010

Hai Cai Pira

> tema sugerido por Raulito
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Manhã de outubro.
Flores dão cor ao caminho
Pouso de Sabiás.

Oswaldo Jr.

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Naquele lago
coruja espreita e pia
em tempo vago

Wallace Puosso
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Upload Primavera

A árvore dá
Sombras e frutos férteis
Flertando o sol

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A borboleta
Voou certeira sobre
A noite longa

Réginaldo Poeta

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Nem fax, nem telefonema
Ó de casa!
Prosa, café e poema

Raulito
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No ciscar simples
da galinha caipira
o ritmo da roça

João Possidônio Jr

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O mio verde
óia embonecada
muié que suspira.

Fábio Ramos

1 de novembro de 2010

ESPERANDO PELO QUÊ?

> tema sugerido por Guilherme Feital
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APEGO

Esperei até que ela parasse de se mover.
Um sinal de vida, um entreabrir de olhos,
um gesto qualquer que me dissesse
que não podia deixá-la ali.
Eu só queria um motivo. Apenas um.
O meu apego me dizia pra tentar
por mais frágil que ela fosse, tentar.
Em vão. Ideias antigas não saem do lugar.

Oswaldo Jr.

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vizione del silencio

Solidão e incomunicabilidade.
Em meio à aventuras ruidosas e roteiros óbvios que Hollywood produz, Antonioni destaca-se como poeta de imagens (plasticamente) bem elaboradas e filma o silêncio/solidão com uma desesperada elegância.
Na obra antoniana, o silêncio diz mais que mil palavras. Fina estampa.
"Vizione del Silenzio", assim Caetano inicia sua canção em homenagem ao mestre. Esquinas vazias, páginas em branco, poemas concisos. Sete versos, vinte palavras. Na ponte aonde se encontram a concisão da poesia cantada, com a perfeição estética gravada no celulóide, Caetano e Antonioni parecem afirmar: menos é mais.
O homem moderno parece ter perdido o sentido da palavra, do primitivo, da essência. Está condenado – como "Entre Quatro Paredes" de Sartre – ao vazio existencial e a ser consumido pelo tédio.
Ao contrário do cinema moderno, Antonioni é um artista do essencial, como poucos.
Mínimas palavras, cenas que dizem mesmo sem dizer.

wallace puosso

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Lâmpadas queimadas no jardim da infância

Essa dor ainda mora em mim
Por não ser capaz de atravessar
Às escadas dos meus dentes...

Réginaldo Poeta
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Raulito

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MEDOS

O tempo gira nos ponteiros do relógio
e nuvens passeiam diante dos teus olhos.

O que esperas encontrar além das pedras do caminho?
O que esperas das pedras?
E do caminho?Que esperas?

Neste minuto eterno
esperas o quê?

Que o azul se torne negro
e os teus olhos brilhem
como pirilampos na mata.

E quando o brilho dourado
acordar o mundo,
tua alma repleta de dúvidas
tenha coragem de caminhar

por entre as pedras
do caminho...

João Possidônio Jr.

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"O rio não espera"


Fábio Ramos