4 de janeiro de 2011

Depois da festa, o que tem na lata de lixo?

Último tema sugerido por João Possídônio Jr.
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PAUSA

Ele acordou com a chuva
batendo em seu rosto
às quatro da manhã.
A meio caminho de casa,
ajeitava na cabeça
os acontecimentos da festa recente.
Apesar da situação, sorriu.
Parar ali não estava nos seus planos,
mas ver a pequena pausa como um fracasso
não seria um bom jeito de começar o ano.

Oswaldo Jr.
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coração louco

Um dia de cada vez.
Às vezes, derrubar a casa e reconstruir
ainda é melhor que a reforma.
Seus poemas já foram bons
suas músicas, entre as dez mais
mas você não quis seguir em frente
bebidas, cigarros e jogos
levaram você ao fundo do fundo
dos porões sombrios, você sabe.
Alguns desvios são como atirar no escuro
jamais se sabe em que direção a bala vai.
Às vezes é melhor não escrever
não compor / não cantar / não amar
do que fazer as coisas pela metade
ou de qualquer jeito, se é que você me entende.
Olhando pra trás, pouca coisa se salva.
Que tal tentar agarrar o futuro?
Um dia de cada vez.

wallace puosso
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Dia primeiro

Depois da festa
Em estado total de consciência
Depositei na lata de lixo:

- rancores antigos
- mágoas mal resolvidas
- tristezas isoladas
- carnês que não consegui quitar
- quilos que não consegui perder
- canetas que insistem em não escrever
- broncas que tomei sem necessidade
-
Não costumo transferir responsabilidades

...mas...

Gatos: se virem!

Réginaldo Poeta
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Sabe, ela deixou-me após a primeira música
Cantarolou todinha no meu ouvido
Não errou, não soluçou
Ah! E como dançou
Aliás, sambamos como nunca
Minha nuca adormeceu
Com seu rosto todo relaxado
Cavaquinho soltou corda
Devagarinho fui embora
Nada me resta agora
Quem sabe, uma latinha fechada
Mesmo quente
Quem sabe aquece minha dor
Quem está comendo e bebendo agora
É por amor?

Não sei, eu te disse que nesta rua de bacana
Desta noite iluminada e barulhenta
Ainda não é hora
Temos que aparecer de manhã, depois das dez
Quando chegam os empregados
Após o primeiro rapa
Jogam o resto para nós
Pra nós só o osso, ora pro nobis
Pra nós só os cus, reza pros céus
Quem me dera!
Encontrar um brinquedo velho
Pro pequeno e pro mais velho?

Raulito
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Espaço-Tempo

Recesso concentrado
Um pouco do tudo
outrora significado
Algo que não dava mais pra
olhar, mas continua lá
O doce
O salgado
O tempo considerado inequívoco
A unicidade desconsiderada como bela
O limite, a borda, a espera
Enquanto ainda não aprendemos
o suficiente, enquanto a festa
ainda insiste em acabar.

Fábio Ramos
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RECICLO DE ANO NOVO

E agora João?
Você que se acha bom,
vai imitar Drummond?
Largue as suas pedras da mão.

Depois da festa
acabou-se o sonho.
O que um dia foi novo
morreu de velho e torto.

Atire na lata de lixo
as cicatrizes dos seus olhos,
a lágrima evaporada
pelo cansaço da espera.

Esqueça o arrependimento
do que não foi tentado.
O suor frio
do medo de ser mal-amado.

Quebre os relógios,
as pressas e desantenções.
Deixaram de ser importantes
muitas das preocupações.

Deixe na lata
o desterro do ano inteiro
em pedaços sem emenda,
sem cor nem cheiro.

O que lhe sobrará
também não é novo...
mas é o que terá
além de janeiro.

João Possidônio Jr.