21 de julho de 2010

CINEMA

Fast Foward


Dizem que perto da morte
a vida toda passa num súbito frente a nossos olhos.
(Por favor, rebobine antes de devolver)

Repassei nossa vida num fast foward
quadro a quadro,
cena a cena.

Nosso amor, no fim, agonizava
e eu nos assistia
numa tela de cinema.



Oswaldo Jr.


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O carona


Fade in. Externa. Plano Geral.
Primeiro, o som da chuva
depois vemos que é noite.
Aparece um carro numa estrada escura e deserta.
Agora uma música surge, aumenta:
“Riders on the Storm”.
Corte. Interna. Plano Próximo.
Um rosto que nos parece familiar.
Olha fixamente para frente.
Acompanhamos curiosos enquanto a câmera desce.
O carona, um sujeito barbudo, segura no colo
um exemplar roto de “The lords and the new creatures”.
As unhas sujas prenunciam um viajante andarilho.
Câmera sobe. Agora já sabemos:
o carona é um dos medos centrais da (tele) dramaturgia americana.
O motorista fuma um cigarro
e acompanha com a cabeça o ritmo da música.
Cantamos com Jim: “There's a killer on the road”.
O sujeito do cigarro puxa conversa:
“Como disse que se chamava mesmo?”
“Billy”. “Billy Cook” - responde o outro.
Uma baforada. Pianinho de Ray Manzareck.
“Ahan...”
Plano Detalhe.
O carona leva a mão ao bolso da jaqueta encardida.
Gelamos. Aquele frio pela espinha.
Sabemos o que acontece a partir daí.
O apelo do cinema reside no medo da morte.
Sete minutos desde que o filme começou.
A música enfim, termina. Sons de chuva e trovões.
Corte. Externa. Plano Médio.
A Câmera sai de trás do carro parado no acostamento
num travelling a acompanhamos lentamente.
pela lateral do carro, passamos pelo retrovisor.
O sujeito do cigarro não está mais fumando
cabeça recostada no volante. Câmera segue.
Vemos o carona logo adiante
Caminhando sob a chuva, Indo pra lugar algum.
Fade out. Letreiro sobe: “The End”


Wallace Puosso

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Trilha sonora distração

As cortinas da vida
Todos os dias se abrem,
Tolice é acreditar
Que o filme apenas se repete.


Réginaldo Poeta

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