13 de novembro de 2015

TEMA 8: INESPERADO (WALLACE PUOSSO)


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Uma situação inesperada
surge para nos dizer
que não temos controle
sobre a vida.

Quem manda em nossos
destinos: nós mesmos?
Ou é a Vida quem manda?

Ainda, outra dú(vida):
- é uma parceria?

 Luiz Felipe Rezende



Inesperado aquilo. Bom, Inesperado talvez nem seja a palavra certa, mas por falta de palavra mais adequada ficou inesperado. Aquilo surgiu antes. Bem antes. Aliás, muito tempo antes. Não soube dizer como chamava, se era bom, se fazia bem, se queria mais. Não soube até acontecer. Aquilo que pra ele ainda não tinha nome, era só uma sensação aconteceu. Porque acontece com todo mundo. Um dia. Acontece e pronto. Ele só não estava preparado. Nunca esteve. Isso é bom! - alguém lhe disse. Bom pra quem? – retrucou na sua insegurança habitual. Sempre fora assim. Perdido entre mais de uma escolha. Mas daquela vez não houve alternativa senão aceitar. Aceitou relutante. Como era de se esperar. E se surpreendeu. Era bom. Fazia bem. E queria mais. Bem mais. Aliás, muito mais. Isso que ele passou a chamar amor. E agora aquilo tinha nome e havia se transformado em parte fundamental dele. Amor. Porque acontece com todo mundo. Acontece e pronto. Mesmo que seja inesperado.

Wallace Puosso



escapou-me das mãos
eu não tive culpa
não sabia que era tão frágil

sim, você me assustou
tirou-me o equilíbrio
Agora está ali, quebrado

nosso amor de outros dias
nosso amor que foi bom
sem conserto, em pedaços no chão

(diz: você varre ou eu varro?)

Oswaldo Jr.



Ainda era madrugada quando abriu a geladeira. Estranho... O hálito frio era até natural de se esperar – mas, em vez dos alimentos (e uma última lata de cerveja), foi peculiar dar de cara com uma paisagem digna daqueles quebra-cabeças que montava com os pais na longínqua infância. Ele parecia olhar da janela de um avião: lá estava a cordilheira dos Andes, nevada, linda – e talvez ainda o esperasse, lá embaixo, o emprego displicentemente recusado por ele após o doutorado.
Enquanto olhava as montanhas, mais admirado que propriamente assustado, escutava em sua cabeça uma voz que dizia: “salte... vamos lá... salte!”
(Todos temos uma voz assim dentro de nós: façam silêncio e não dou cinco minutos para começarem a ouvir. É por causa disso, aliás, que algumas pessoas parecem ter horror a silêncio.)
Lembrou-se do avô, até os últimos momentos: “O importante é manter o espírito aventureiro!”
Então saltou. Esperava descer suavemente, pois tinha a convicção inabalável de um paraquedas às suas costas. Mas não foi o que aconteceu...
Subiu. E muito! Não se lembrava de como manusear os controles do propulsor – caramba, o antigo simulador de voo no seu computador não tinha a opção de “jato dos Jetsons” ou coisa assim. Atingindo as nuvens, acalmou. Como era bom estar ali! A essa altura, já conseguia voar na horizontal e, embora não precisasse realizar qualquer movimento para seguir voando, não resistiu à tentação e esticou os braços para a frente, realizando assim um sonho: em plena maturidade, seu dia de Superman havia enfim chegado.
Voava tranquilo quando seu superolfato (só podia ser isso) detectou um aroma delicioso alguns quilômetros abaixo. Apontou e desceu, quase verticalmente. Esperava encontrar um banquete ao ar livre ou talvez uma pizzaria. Nada disso. Pousou praticamente dentro... de um rio! Mas dizer isso seria restringir a experiência. A verdade é que ele era arrastado por uma estranha e densa correnteza. Chedar, talvez? Mas devia haver um pouco de vinho na composição... A coisa toda era inebriante, sem dúvida. Só faltava o pão...
Para não perder o equilíbrio em pleno mer du fromage, instintivamente agarrou um dos galhos (ou raízes?) próximos a uma das margens. Teve então uma sensação dúbia: havia ali simultaneamente maciez e crocância... mas... então... sim! Mergulhou satisfeito a baguete no gruyère fundido (ainda estava confuso quanto ao componente primordial ali presente) e foi feliz, não pela primeira vez naquele dia.
Tudo depois fluiu maravilhosamente: “Não é você, não há esforço: o arco deixa cair o tiro e tudo simplesmente acontece”, já dizia o mestre. Compreendeu: não havia mais o inesperado, pois nada mais era sequer esperado. Apenas ERA, e pronto.
A chuva de luz foi um dos pontos altos daquele dia. Em êxtase, ele simplesmente ficou deitado à sombra das chocolateiras, apreciando os polígono-íris, tão belos em suas onze cores e tão diferentes dos arco-íris terrestres.
Por fim, deixou-se adormecer ali mesmo. E sonhou que estava diante de uma tela, escrevendo...



Paulo R. Barja

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