22 de novembro de 2015

TEMA 10: GRITOS NO QUARTO ESCURO DO CORAÇÃO (THAIS LOPES)

Google Imagens




Gritos no quarto escuro do coração


Tiroteio sem inicio nem fim; balas perdidas em busca de companhia; crianças descalças correndo em ruas sem asfalto; mulheres e seus cigarros como confidentes; homens engraxando os coturnos esperando o sinal; focinheiras nos cachorros alimentados com carne;

Corações sufocados pelo egoísmo; latas de refrigerante na banca em promoção; revistas não lidas nem vistas; livros sagrados devorados em busca de respostas; ‘esperança’ nome do gato de estimação que dorme o dia todo.

Imagens da rotina daquela menina que busca água pra família; nuvens para os olhos do menino que sonha ter um coturno; saliva transbordando por entre os dentes dos cães na hora do ataque – comida; gritos silenciosos das mulheres violentadas; lágrimas desesperadas das mães que perderam seus filhos em confrontos inexplicáveis.

O coração pulsa. Válvula de bombeamento de sangue para o corpo. Ponto vulnerável e potente do Ser Vivo. Válvula de compressão que pulsa e empurra o movimento do Ser.

Pulmão filtro. Mecanismos de bombeamento de ar mecânico. Sistema que filtra o ar fétido no campo de batalha. Bomba que balança entre o olhar e o ar, impulsionado por sustos e surtos.

Grito. Som constante acorda cedo e ajuda a adormecer, musica de ninar e acalentar. Tom constante inaudível, pessoal e intransferível, volúvel e volátil.
Despertador interno, temporal e atemporal. Pânico externo. Resistente a   milhares de anos.

Assim grito no quarto escuro do coração a palavra proibida.


Inspirado no texto “A mulher como campo de batalha” de Matéi Visniec



Thais Lopes




Longa é a noite

No quarto escuro
Uma pessoa ausente
O que os olhos não veem
O coração inocente


Oswaldo Jr.




Remonto o futuro num jogo de cartas prevendo o passado remoto nos olhos que dizem não
noite bela e comovente sigo imune, indiferente a qualquer construtivismo
corro a vista pelo jornal como pão de anteontem (domingo é um dia só) impune, prossigo insistente entre uma rajada de obviedades
passado o clamor do nada eis que surge uma fresta um halo de vida

quero surpreender o sol antes do sol
raiar


Wallace Puosso




Pé espalha
Sustentáculos.
Pé de bailarina de vestido rodado.
Pé de trilho andarilho:
(de rg manchado, de naturalidade borrada, de filiação que falta pedaço)
Pé de pista de sapato surrado com borras de nicotina e de cheiro de éter derramado
Pé de São João Batista peludo de unhas encravadas
Pé de misericórdia de olhos voltados (vendados) ao céu.
Pé de bacia de água turva
Pé (de) sem cutícula de unhas princesinhas a espera do Dândi elegante
Pé de caatinga de terra rachada de dor de existência
Pede pede pede às vezes a porta se abre.
E na mesa tem banquete.
Ao gargântua esfomeado.




Charles Lima

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